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2016-06-28 às 16h12

«O que a Europa tem de fazer é responder ao medo» dos cidadãos europeus

Primeiro-Ministro António Costa com o Chanceler da Áustria, Christian Kern, o Presidente da República de Chipre, Nicos Anastasiades, e o Primeiro-Ministro da Estónia, Taavi Roivas

«Há uma revolta geral das pessoas perante a incapacidade de a Europa crescer economicamente, de criar emprego, em particular para a juventude, e aquilo que mais alimenta decisões como o Brexit e os populismos é o medo», afirmou o Primeiro-Ministro António Costa à entrada para o Conselho Europeu, em Bruxelas, que vai discutir, entre outros assuntos, a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia.

O Primeiro-Ministro prosseguiu afirmando que «aquilo que a Europa tem de fazer é responder ao medo mostrando que é capaz de contribuir para uma regulação justa da globalização, policiando devidamente as fronteiras, integrando e reforçando a coesão social no seu interior, criando um espaço de liberdade de circulação, de convívio, de tolerância, de acordo com os valores europeus, mas onde todos se sintam seguros».

«Mas sobretudo responder ao medo que as pessoas têm do futuro, sendo capaz de devolver a confiança de que podemos ter uma economia pujante, competitiva, naquilo que é a economia moderna, assente no crescimento do século XXI, geradora de emprego, e sobretudo, que é capaz de responder às novas gerações, com confiança e ambição», afirmou.

Causas do mal-estar dos europeus

«Este mal-estar tem uma causa: os cidadãos deixarem de sentir que a Europa lhes é útil no seu dia-a-dia», acrescentou.

«É muito importante percebermos que esta decisão do Reino Unido tem causas muito parecidas àquelas que estão a fomentar a emergência do populismo em vários Estados europeus», disse.

«E é aí que nós temos de atacar dando prioridade a ter uma maior cooperação nas nossas fronteiras externas, em matéria de combate ao terrorismo, a dar maior atenção à necessidade de integração e de coesão social - porque não podemos ignorar que muitos dos agentes terroristas têm vindo de bairros que deviam ser de intervenção prioritária».

A União Europeia tem de «olhar para as causas que estão por trás» da decisão do Reino Unido, «e que são comuns a vários países europeus», afirmou, acrescentando que «essas causas têm a ver sobretudo com a necessidade que os cidadãos sentem de verificar que a União Europeia é útil na vida do seu dia-a-dia, que a União Europeia contribui para reforçar a sua segurança, para criar melhores condições de prosperidade, para o crescimento, para a criação de emprego».

António Costa afirmou também que «há uma doença relativamente ao sentimento dos europeus sobre a União Europeia». «Nós temos de olhar para isso não fingindo que não percebemos o que se passa, mas dando uma resposta efetiva à necessidade de corrigir o que é necessário corrigir, para fortalecer a Europa», disse.

«Se queremos uma Europa forte, uma Europa que responda aos anseios dos cidadãos, temos de fazer essa evolução política», referiu.

«Se a Europa conseguir fazer isto, interpreta bem os resultados deste referendo no Reino Unido», disse o Primeiro-Ministro.

Saída amigável

As negociações de saída do Reino Unido «devem ter o ritmo que tiverem e, sobretudo, devem decorrer de uma forma amigável». «Para nós isto é óbvio porque temos a mais antiga aliança do mundo com o Rino Unido e, portanto, uma relação que é muito anterior à entrada de Portugal para a então CEE e será muito posterior à saída do Reino Unido da União Europeia», acrescentou.

«Mas, para o conjunto da Europa, temos agora de criar um novo nível de relacionamento com o Reino Unido, em novas bases, e devemos fazê-lo com naturalidade», afirmou António Costa.

«A Europa deve abrir negociações de uma forma amigável, não procurando utilizar estas negociações como um castigo a quem, livre e democraticamente, decidiu escolher o seu caminho, mas com um espírito que é o de que temos agora de ter uma nova forma de relação com o Reino Unido».

«Trata-se de prosseguir uma relação de trabalho conjunta com o Reino Unido de uma forma distinta daquela que temos tido até agora», acrescentou.

Execução orçamental

Respondendo a perguntas da imprensa sobre a eventualidade de a Comissão Europeia decidir sancionar Portugal devido ao não cumprimento dos objetivos do défice orçamental em 2014 e 2015, o Primeiro-Ministro afirmou que esse seria «um péssimo sinal, porque significaria que a Comissão Europeia não perceberia o que se está a passar hoje na Europa».

«Todos percebem que perante a saída do Reino Unido, a crise dos refugiados, a ameaça terrorista, as ameaças externas sobre a Europa, é absolutamente ridículo estarmos a discutir 0,2% da execução orçamental do anterior Governo, para mais num ano em que, pela primeira vez, mesmo nas piores previsões da Comissão Europeia, é garantido que cumpriremos um défice abaixo dos 3%».

«E pelos dados que já são conhecidos, até maio, podemos dizer que estamos numa posição que é bastante melhor do que as previsões da Comissão Europeia», sublinhou.

O Primeiro-Ministro concluiu afirmando que «era um péssimo sinal para a Europa, demonstraria falta de foco naquilo que é essencial». «E aquilo que é essencial, a que a Comissão Europeia se devia dedicar, era responder àquilo que, por não ter uma resposta suficiente, deu resultados como o que tivemos agora em Inglaterra», disse.

 

Foto: Primeiro-Ministro António Costa com o Chanceler da Áustria, Christian Kern, o Presidente da República de Chipre, Nicos Anastasiades, e o Primeiro-Ministro da Estónia, Taavi Roivas, antes do Conselho Europeu, Bruxelas, 28 junho 2016 (Foto: Conselho Europeu)