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No quadro dos trabalhos em curso sobre a definição de um perfil de competências para a escolaridade obrigatória alargada a 12 anos e da promoção da flexibilização da gestão do currículo, o Ministério da Educação promoveu a conferência internacional «Currículo para o Século XXI – Pensar a Matemática», organizada pela Direção-Geral da Educação, que teve lugar em Lisboa.
Esta conferência teve como objetivo reunir investigadores nacionais e internacionais, professores de Matemática e outras disciplinas, na procura de consensos para a construção das melhores opções sobre o ensino desta disciplina no quadro de uma promoção de aprendizagem efetivas, significativas e integradas com as restantes áreas do currículo.
O Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, afirmou, na abertura da conferência que um trabalho bem estruturado e de longo prazo permite reduzir o número daqueles que não detêm as competências básicas e alargar, ao mesmo tempo, aqueles que desenvolvem conhecimentos mais complexos.
«Cá está uma das falsas dicotomias que importa contrariar. A beleza, a justiça e a diversidade da Matemática interpelam-nos. Não apenas a álgebra, mas também a geometria, a lógica, as probabilidades e a observação de padrões são instrumentos preciosos para explorarmos a vida e resolvermos problemas que nos afetam», disse.
Especialistas europeus
O evento contou com a participação de três especialistas europeus de renome da área da Matemática e da educação matemática.
Koeno Gravemeijer, da Universidade de Tecnologia de Eindhoven, na Holanda, propôs uma reflexão sobre a necessidade de ajustar a educação matemática aos desafios colocados pelas competências esperadas no quadro das novas tipologias de atividades deste século e da relação entre conhecimento e tecnologia que as mais recentes mudanças sociais acarretam.
A sua intervenção focou-se, assim, na identificação da interação entre o ensino da matemática e o desenvolvimento de competências-chave para o século XXI, como a resolução de problemas, a flexibilidade, o pensamento crítico e o trabalho colaborativo.
Tony Gardiner, especialista em Matemática do Reino Unido, afirmou a necessidade de uma educação matemática focada nos conceitos matemáticos estáveis e fundamentais, bem como a relevância dos contextos locais para a definição de políticas educativas – menorizando a mera reprodução de opções de outros países ou a sobrevalorização de testes internacionais.
Apontou para o quanto algumas falsas dicotomias podem ensombrar os debates sobre estas questões, como as distinções entre conteúdos e competências ou entre estratégias ascendentes ou descendentes no ensino.
Ferdinando Arzarello, da Universidade de Turim, na Itália, enunciou princípios a considerar no desenho curricular, apontando para a necessidade de ter em conta não apenas o que se ensina, mas quem se ensina e como se ensina e valorizando o envolvimento dos professores no desenho de alterações curriculares.
Especialistas portugueses
A conferência contou com uma mesa redonda, moderada pelo Professor Alexandre Quintanilha, na qual participaram os presidentes da Associação Portuguesa de Matemática, Lurdes Figueiral, da Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática, Leonor Santos, e da Sociedade Portuguesa de Matemática, Jorge Buescu.
A Presidente da Sociedade Portuguesa de Investigação em Educação Matemática, Leonor Santos, defendeu a aprendizagem da Matemática para todos, entendendo que a aprendizagem deve estar associada à compreensão e a aula deve estar mais centrada no aluno, através de métodos de ensino que aumentem a interação entre professor e aluno, usem a avaliação de uma forma continuada para a aprendizagem e recorram à tecnologia. Sustentou a necessidade de intervenções fortemente apoiadas pelos resultados da investigação em Educação Matemática.
A Presidente da Associação de Professores de Matemática, Lurdes Figueiral, criticou o ensino da Matemática que sobrevaloriza os conhecimentos mais formais e fragmenta e espartilha as aprendizagens, gerando um sentimento de desinteresse pela disciplina e contribuindo para segregar e excluir.
Lurdes Figueiral acredita que todos os alunos podem ter sucesso a Matemática, pelo que não devem ser afastados deste propósito: «Todos podem melhorar o raciocínio, a autoestima e a autoconfiança», pelo que «ouvir ''Professor, afinal consegui'' é a maior satisfação que um professor pode ter».
O Presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática, Jorge Buescu, manifestou o apoio da Sociedade às metas e programas em vigor, comentando os mais recentes resultados de Portugal em testes internacionais e enaltecendo os princípios metodológicos e conclusões do estudo norte-americano intitulado «Fundações para a Êxito».
Manifestou a sua apreensão com os possíveis rumos do trabalho em curso sobre o currículo e apelou a que não se baixem os níveis de exigência no final do ensino secundário.
Discussão participada
Na sessão de encerramento, o Secretário de Estado da Educação, João Costa, destacou a importância de ter uma discussão participada, que se enquadra num trabalho em que, pela primeira vez, se juntam todas as áreas do currículo em simultâneo.
«O currículo é algo integrado, e não um conjunto de unidades atomizadas que não sabem nada umas das outras», afirmou, reiterando a importância de poder contar com os contributos de todos.
«Ninguém se deve inibir de fazer chegar as suas preocupações, comentários, convicções e opiniões ao Secretário de Estado da Educação. Todos os contributos serão, certamente, tidos em conta e integrados. Queremos construir um consenso alargado», afirmou João Costa.
«Não queremos trabalhar com abordagens isoladas, baseadas em documentos e olhares únicos, não integrados. Estamos a trabalhar para garantir que temos um currículo exequível, que pode ser aplicado na escola e promotor de melhores aprendizagens», disse ainda.
O Ministro da Educação, conforme tinha referido no início da conferência, e consciente que tem sido difícil chegar a consensos alargados entre os diferentes atores do ensino e da aprendizagem da Matemática, explicou que um dos objetivos da conferência era ouvir todos para conseguir que mais alunos gostem desta disciplina.
«A Matemática é-nos essencial como bem comum da Humanidade e, portanto, como uma linguagem fundamental para a inclusão dos cidadãos nas sociedades de hoje, qualquer que seja o percurso educativo e laboral que os cidadãos sigam. Qualquer pessoa hoje, sem literacia matemática, está amputada de direitos básicos», concluiu Tiago Brandão Rodrigues.
Foto: Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodirgues, e Secretário de Estado João Costa na onferência internacional «Currículo para o Século XXI – Pensar a Matemática», Lisboa, 13 janeiro 2017
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