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2017-03-06 às 13h32

Défice das qualificações é «o maior défice estrutural que o País tem»

Primeiro-Ministro António Costa na apresentação do programa Qualifica, Campo Maior, 3 março 2017 (Foto: Clara Azevedo)
Apresentação do Programa Qualifica

O Primeiro-Ministro António Costa afirmou que o défice das qualificações é «o maior défice estrutural que o País tem e que se acumulou durante séculos, que se acumulou durante as décadas do século XX», na apresentação do programa Qualifica, em Campo Maior.

O Primeiro-Ministro afirmou que «a chave para o nosso futuro está na inovação, e a primeira condição para a inovação é a qualificação dos nossos recursos humanos», que é, também, o maior défice estrutural que o País tem.

«Os números, infelizmente, não mentem: cerca de 29% da população entre os 25 e os 64 anos não completou o 3.º ciclo do ensino básico. Quando nos comparamos com a Europa em conclusão do ensino secundário, nós verificamos que 53% da população entre os 25 e os 64 anos não completou o ensino secundário, enquanto na Europa essa média baixa para os 23%. Esta é a grande diferença que nos separa da Europa».

Resolver os problemas estruturais

António Costa referiu que «o País tem boas razões para estar satisfeito com os resultados nos últimos tempos na nossa economia: no final de 2016 crescemos mais que a média europeia, no ano de 2016 o País criou mais de 118 mil empregos em termos líquidos, as exportações aumentaram 11%, o investimento empresarial aumentou mais de 6,5%, tivemos o défice mais baixo da nossa democracia».

Mas, sublinhou, «não nos basta ficar o olhar para os bons resultados. Temos que perceber que estes resultados são a oportunidade que temos para fazer o que temos a fazer».

E o que é necessário fazer «é resolver os problemas estruturais que têm limitado a capacidade de crescimento do País de um modo sustentado, ao longo dos últimos 17 anos».

«Campo Maior é um excelente exemplo para todo o País, um exemplo de como um pequeno município do interior pode ser o centro onde se estabelece uma atividade económica dinâmica, e onde nasce uma das multinacionais que o País tem e que está presente em mais de 30 mercados em todo o mundo», disse apontando a responsabilidade o empresário Rui Nabeiro.

Campo Maior «é também um excelente exemplo de como nem o interior do País, nem as empresas nacionais estão condenadas à insuficiência da sua localização e às deficiências estruturais do País».

«Pelo contrário, fazendo o investimento certo na capacidade de inovar, na capacidade de internacionalizar, é possível fazer, a partir de um pequeno município do interior, uma grande multinacional».

«É por isto que faz sentido lançar, aqui, em Campo Maior, o programa Qualifica», afirmou António Costa, que também inaugurou o Centro Qualifica da Delta.

Melhor emprego, melhor produtividade

O Primeiro-Ministro disse que «mais qualificação significa melhor emprego, mas mais qualificação significa também empresas mais produtivas e empresas mais produtivas significam uma economia mais competitiva».

Este «é o desafio estrutural que o País tem que enfrentar se quisermos vencer, e a história que o grupo Nabeiro nos conta, que nos contam outras empresas do agroalimentar, o setor têxtil, setor do calçado ou da metalomecânica, foi que todos estes setores se modernizaram quando souberam investir na inovação e quando souberam investir na qualificação dos seus quadros».

«Este programa Qualifica é um programa central para o futuro do País, porque é a chave para nós sermos, ou não sermos, capazes de ter empresas mais produtivas e termos uma economia mais competitiva», sublinhou.

Esforço para todas a gerações

O Primeiro-Ministro afirmou que «foi um erro ter-se desinvestido, nos últimos anos, na formação e na educação de adultos», pois «o esforço de qualificação na sociedade portuguesa é um esforço que tem que se dirigir a todas as gerações».

«Às gerações que estão agora a nascer, a quem temos que garantir que têm oportunidade de ter acesso ao pré-escolar a partir dos três anos, porque hoje sabemos que as crianças que frequentaram o pré-escolar têm maior sucesso em todo o seu percurso educativo».

«À geração que está hoje no sistema de ensino, porque sabemos que já estando numa situação muito diferente daquela em que estávamos há décadas atrás, ainda assim 20% da geração que tem entre 20 e 24 anos não está a completar o ensino secundário».

«À minha geração, que não teve as oportunidades que felizmente as novas gerações têm, mas que tem vontade e de quem o País necessita para o seu desenvolvimento».

Esta geração é a «que está muito longe da média europeia (…) e que tem que ter a oportunidade de se realizar, e que o País não pode deixar para trás» e é por isto «que a educação e a formação de adultos é absolutamente essencial».

O Primeiro-Ministro afirmou que todos «sabemos bem que, fruto das alterações demográficas vamos ter que estar mais tempo no mercado de trabalho do que estiveram gerações anteriores. Mas, para estarmos ativos mais tempo no mercado de trabalho, temos que ter as novas ferramentas que nos permitem estar no mercado de trabalho».

«Não é por acaso que o desemprego de longa duração é aquele que mais tem resistido a reduzir-se», assinalou, acrescentando que «o desemprego de longa duração é o desemprego que atinge as pessoas da minha geração».

Combater a precariedade

António Costa disse que o esforço de qualificação «é um esforço do conjunto da sociedade» de obter melhores qualificações para poder obter melhor emprego.

«Melhor emprego significa, como disse o comendador Nabeiro, combater a precariedade. Porque só numa relação estável alguém investe na sua própria formação, e só numa relação estável o empregador investe na formação dos seus quadros».

«Temos que romper este ciclo vicioso de querer arranjar um atalho para a competitividade fomentando a precariedade e apostando nos baixos salários», disse, acrescentando que «nenhum país se desenvolveu assim e nós não seríamos exceção a essa regra».

É com o investimento na qualificação, o combate à precariedade, a valorização dos recursos humanos «que se está a ganhar produtividade e competitividade para conseguirmos internacionalizar».

Programa fundamental do Programa Nacional de Reformas

O programa Qualifica «é um dos programas fundamentais do nosso Programa Nacional de Reformas, programa que tem uma visão integrada do que é uma estratégia para a década, uma visão de médio prazo para o País».

Apontando a integração entre os seis pilares do Programa Nacional de Reformas o Primeiro-Ministro exemplificou que «só vamos ter um território mais valorizado se formos capazes de fazer chegar melhor conhecimento aos nossos produtos naturais e, com base nisso, inovar».

Hoje Portugal tem melhor azeite, melhor vinho, e melhor café do que há umas décadas atrás porque os produzimos «com mais conhecimento do que produzíamos há uns anos atrás».

Oportunidade para todos

O programa Qualifica não é só «decisivo para o futuro do País, mas é também uma oportunidade para cada uma e para cada um daqueles que aderir ao programa, sejam as empresas, sejam os cidadãos», disse António Costa.

«Este programa não é uma repetição das Novas Oportunidades, porque também beneficiamos da aprendizagem ao longo da vida», sublinhou.

O percurso «começa com uma entrevista que identifica bem qual é o perfil da pessoa que se apresenta, o que é que já sabe, o que é que precisa de saber para aquilo que quer ser, e é definido um programa personalizado à medida da capacidade, dos conhecimentos, da vontade e das ambições, da pessoa».

«Cada um de nós tem conhecimentos, tem ambições, tem percursos de aprendizagem a realizar, e o que o programa Qualifica faz é definir, para cada um de nós, o que temos de saber para podermos cumprir a nossa ambição de realização, e assim podermos contribuir para um maior desenvolvimento do País».

O Primeiro-Ministro concluiu, afirmando que «este programa é um programa central do nosso Programa Nacional de reformas porque é aquele que responde ao maior défice estrutural que o País tem, o défice das qualificações, que é o défice que temos que vencer para podermos vencer todos os outros défices».

 

Foto: Primeiro-Ministro António Costa na apresentação do programa Qualifica, Campo Maior, 3 março 2017 (Foto: Clara Azevedo)