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Histórico XXII Governo - República Portuguesa Voltar para Governo em funções

Comunicados

2022-01-10 às 8h50

Ministra da Cultura lamenta morte da pianista e pedagoga Tania Achot

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte da pianista e pedagoga Tania Achot (1937-2022), reconhecida figura do universo pianístico e da formação musical em Portugal.

Não obstante a sua origem arménia, as suas raízes culturais e afetivas estavam ligadas à Rússia, onde também estudou a par da sua formação em França e na Polónia, contactando de perto com vários docentes e músicos de referência. Casaria com o também ilustre pianista Sequeira Costa, tendo-se radicado em Portugal a partir da década de 60.

Tania Achot-Haroutounian foi uma presença assídua a solo em inúmeras salas e recitais um pouco por todo o mundo, bem como em contextos nacionais de referência cultural, como o CCB, a Casa da Música ou a Fundação Calouste Gulbenkian.

Em termos internacionais, Tania Achot participou em duas edições do Concurso Internacional de Piano Frédéric Chopin, tendo alcançado em 1960 o terceiro lugar na sexta edição deste prestigiado evento, ano em que o pianista italiano Maurizio Pollini foi o vencedor do mesmo. Na década de 50, alcançara já uma menção honrosa na ARD Internacional Music Competition em Munique em 1956 e, volvidos dois anos, atingiu as meias-finais da Music Performance Competition em Genebra. Em 1959 classificou-se em sexto lugar na Marguerite Long-Thibaud Competition, em Paris.

Em Portugal desenvolveu uma considerável parte do seu percurso profissional a partir dos anos 60, tendo tido uma influência muito relevante no desenvolvimento da formação musical especializada no país. Tania Achot preconizou mudanças nos modelos e conteúdos do ensino que então se praticava. A sua visão reformista, aliada a uma postura pedagógica de enorme rigor e exigência, teve um papel fundamental na introdução, nas décadas de 80-90, de muitas obras de piano que não eram lecionadas no sistema português.

Foi professora na Escola Superior de Música de Lisboa após a reconversão desta instituição, lecionou cursos de aperfeiçoamento, além de se dedicar, com Sequeira Costa, a dar aulas particulares num estúdio em Lisboa a um grupo de alunos, de onde sairiam reputados pianistas, como Carla Seixas e Paulo Santiago. Outros nomes de relevo artístico, como Nuno Vieira da Almeida, Teresa Palma Pereira, António Toscano, Sara Carvalho, Joana Gama ou Paulo Oliveira, foram igualmente seus discípulos.

Enquanto intérprete, Tania Achot destacou-se na abordagem a obras de Scriabin, Chopin, Schumann, Rachmaninoff, Shostakovitch e Prokofiev – o grande repertório romântico era-lhe especialmente caro, registando nesse âmbito performances de inegável carisma e fulgor –, sem descurar a contemporaneidade de compositores como Pierre Boulez ou António Pinho Vargas.

Detentora de forte personalidade, a sua singularidade artística passava por um labor intenso na dimensão técnica e na construção de uma abordagem pessoal da música, aliado a uma sensibilidade e emotividade marcantes no diálogo criativo com o piano. Inspiração e risco eram o seu mote maior para a vida e a arte.

À família e amigos enviam-se sentidas condolências.
Graça Fonseca
Tags: música
Áreas:
Cultura