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Histórico XXII Governo - República Portuguesa Voltar para Governo em funções

Comunicados

2021-09-18 às 23h45

Ministra da Cultura lamenta morte de José-Augusto França

A Ministra da Cultura, Graça Fonseca, lamenta profundamente a morte de José-Augusto França (1922-2021), vulto maior da cultura portuguesa das últimas seis décadas e um dos grandes pensadores portugueses dos séculos XX e XXI. Foi historiador, sociólogo, crítico de arte, professor e romancista prolífico. Sobre si mesmo dizia que respirava arte – não precisava de o dizer, porque o sentíamos. Fez da partilha do seu conhecimento enciclopédico a razão primordial da sua vida e esse é o maior testamento que nos deixa: a forma como iluminou e inspirou sucessivas gerações de alunos, leitores e discípulos.
 
Verdadeiro cidadão do mundo, José-Augusto França manteve durante toda a vida uma estreita relação com a terra onde nasceu, Tomar. Foi ali que iniciou os estudos, rumando depois à capital, onde cursou Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Daí partiu para França, país que acolheu e onde foi acolhido. Dizia que um dos grandes choques da sua vida foi chegar a Paris, porque sentia no ar uma liberdade nunca antes sentida. O outro grande choque de França foi ver, pela primeira vez, os quadros de Pablo Picasso.
 
Na Universidade de Paris IV (Panthón-Sorbonne), doutorou-se em história, em 1962, com a tese Une Ville des Lumières: la Lisbonne de Pombal; sete anos mais tarde, faz-se doutor em letras, com a tese Le Romantisme au Portugal. Durante a sua vida, José-Augusto França escreveu mais de uma centena de livros, divididos por diversas categorias: história da cultura, história da arte, estudos olisipográficos, monografias, ensaios e ficção. Editou, ainda, cinco números da revista Unicórnio, escreveu crítica da arte na L’Art d’Aujourd’hui e dirigiu a Colóquio de Artes, revista da Fundação Calouste Gulbenkian, entre 1971 e 1997.
 
Não foi, contudo, no seio da academia que José-Augusto França publicou o seu primeiro livro, chegando mesmo a afirmar que tinha alma de romancista. Natureza Morta, de 1949, é um dos primeiros romances portugueses a tratar a temática anticolonialista. Outra paixão sua, o cinema, foi explorada em Charles Chaplin, o Self-made Myth, através do qual o autor discorre sobre o mito e a moral. Todos os dias, dizia ele, via dois filmes, um a seguir ao outro. Não usava a internet, computador também não, escrevia numa máquina de escrever e queixava-se da dificuldade de encontrar cartuxos de impressão.
 
Após o 25 de Abril de 1974, José-Augusto França inicia um novo capítulo da sua vida, aceitando a missão de implementar em Portugal o ensino da História da Arte, o que acontece na recém-inaugurada Universidade Nova de Lisboa, instituição na qual cria esta licenciatura, e, mais tarde, o mestrado homónimo. As centenas de alunos que preparou formam hoje um séquito agradecido e reconhecido a este homem tantas vezes apelidado de incansável. 
 
Apesar de ter vivido grande parte da sua longa vida no estrangeiro, de uma certa forma, José-Augusto França viveu sempre em Portugal: o seu longo labor permitiu construir uma narrativa da arte portuguesa, contribuindo indelevelmente para que esta pudesse ser compreendida onde antes não era. As suas monografias sobre Rafael Bordalo Pinheiro, Domingos Sequeira, Columbano Bordalo Pinheiro, Amadeo de Souza Cardoso e Almada Negreiros fazem dele um embaixador por excelência da cultura portuguesa. O seu livro Lisboa: história física e moral, publicado em 2008, é bem demonstrativo do seu amor à cidade que nunca deixou e onde vivia durante parte do tempo, num quarto andar alto do Príncipe Real, de onde via a cidade e mundo.
 
Em 1991, o Estado Português agraciou José-Augusto França com a Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique; com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique, em 2006; e com a Medalha de Mérito Cultural, em 2012.
 
José-Augusto França tinha 98 anos. 
À família a aos amigos, a Ministra da Cultura endereça os seus mais sentidos sentimentos.
Tags: história
Áreas:
Cultura