«Hoje não se investe à procura de baixos salários, investe-se à procura de alto talento», afirmou o Primeiro-Ministro António Costa na assinatura do contrato para instalação de um mega datacenter no parque industrial de Sines, num investimento que poderá ascender a 3500 milhões de euros e criar 1200 empregos diretos altamente qualificados até 2025.
O Primeiro-Ministro disse também que «independentemente de este vir a ser o maior investimento direto estrangeiro das últimas décadas», ele «demonstra as bases da estratégia do nosso desenvolvimento: localização que assegura conectividade global, capacidade única de ser um grande centro de produção de energia renovável a baixo custo e transição para a sociedade digital».
«Tenho a confiança de que com este investimento, outros virão. Alguns concorrentes, mas outros que poderão trabalhar a matéria-prima fundamental da transição digital que é a disponibilidade de dados», disse.
Cabos submarinos
António Costa destacou que «com este projeto», chamado Sines 4.0, «podemos conjugar a ambição de estarmos na liderança da transição digital e da transição climática».
O Primeiro-Ministro apontou as condições da topografia marinha quase únicas de Sines «para a instalação de novos cabos submarinos de interconexão digital entre a Europa e outros destinos, referindo dos cabos EllaLink, que liga a Europa, através de Portugal (Continente e Madeira), à América do Sul, Equiano e 2Africa, que ligam a África à Europa através de Portugal.
«Os cabos de ligação de fibra ótica fazem de Sines um ponto de localização privilegiado para toda a indústria assente no digital», e «esta é uma das principais razões de ir ser aqui construído um dos maiores datacenters da União Europeia e o maior da Europa do Sul», disse.
Transição digital
Referindo-se à transição digital, António Costa afirmou que «os cabos submarinos trouxeram o datacenter, que tem um enorme potencial para arrastar a multiplicação de outras atividades da área digital, para as quais a proximidade do datacenter é crucial», ajudando a colocar Portugal na linha da frente.
Lembrando que a tabela da Comissão Europeia sobre inovação, do ano passado, Portugal ascendeu «à primeira liga como país fortemente inovador» e «está no top 3 da densidade de engenheiros na população – apenas a Alemanha e a Dinamarca estão, ainda, à nossa frente», acrescentou que «um dos programas do Plano de Recuperação e Resiliência, o Impulso Steam, é para assegurar um aumento da formação em ciências, tecnologias, engenharias, artes e matemáticas, para a nova geração, porque estas formações Steam vão ser decisivas para a captação dos investimentos do futuro».
Simultaneamente, «Portugal faz parte do pequeno grupo de países que é considerado na lista dos leading digital Governments», isto é, as Administrações Públicas com maior índice de digitalização.
Transição climática
Quanto à transição climática, «Portugal foi, em 2016, o primeiro país do mundo a assumir o objetivo de atingir a neutralidade carbónica em 2050», o que não parecia ter relevância na altura. Porém, «nós sabíamos que, se o fizéssemos, outros viriam também a fazê-lo, assim como quando Vasco da Gama partiu daqui para descobrir a rota da Índia, muitos outros depois a fizeram e fazem».
«Temos orgulho de ter sido os primeiros, mas temos ainda mais orgulho de ver cada vez mais países juntarem-se-nos neste compromisso, e de, esta semana, a presidência portuguesa da União Europeia ter tido sucesso num dos seus principais objetivos»: o acordo sobre «a lei do clima que fixa, à escala europeia, o objetivo da neutralidade carbónica em 2050 e de redução das emissões em 55% até 2030, porque é nesta década que temos de fazer o principal esforço», disse.
O Primeiro-Ministro lembrou que, quando o Governo fixou, no se programa, «o objetivo de encerrar as duas centrais a carvão que ainda estavam em funcionamento, muitos acharam que estávamos a correr um risco na nossa segurança energética».
Mas «a nossa segurança energética não podia continuar a assentar nos combustíveis fósseis». «Tínhamos de a reconstruir com base nas energias renováveis» e «hoje podemos orgulhar-nos de 59% da eletricidade que consumimos ter origem renovável, de uma das centrais a carvão já ter encerrado e de a outra ir encerrar até final do ano, e fazemo-lo com a segurança de continuarmos a aumentar a nossa produção de energia renovável».
António Costa afirmou que nesta nova revolução «temos a vantagem competitiva sobre os países» que tiveram essa vantagem na primeira revolução industrial, a vantagem «de ter os recursos energéticos renováveis essenciais e a capacidade de inovação que nos permitirá encontrar novas fontes de energias renováveis».
Hidrogénio verde
Em Sines, «vamos deixar de produzir energia a partir do carvão e vamos passar a produzir energia através de hidrogénio verde», porque tem energia renovável barata uma vez que «nos dois últimos leilões, em dois anos consecutivos, batemos o recorde mundial do preço da energia solar mais barata, à escala mundial».
«Tal como a energia barata foi condição fundamental para instalar aqui este datacenter, ela será também condição para instalar aqui os pontos onde se pode fazer a hidrólise para a produção do hidrogénio verde», disse, acrescentando que «para fazer hidrogénio verde, é preciso fazê-lo com base em energia renovável de baixo custo».
Em Sines, podemos «fazer a reconversão da estrutura industrial da anterior era energética para a nova, aproveitando instalações e infraestruturas de transporte de gás natural para transportar hidrogénio verde», afirmou.
O Primeiro-Ministro disse ainda que «este é um exemplo excelente de que transições digital e energética são gémeas e têm de andar uma com a outra. Estas transições não são uma ameaça ao desenvolvimento económico nem à criação de emprego; pelo contrário, são oportunidades para um desenvolvimento económico mais sustentável e para a criação de mais emprego mais qualificado».
Investimento
O Secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, apontou o «enorme potencial de exportação de serviços» do projeto Sines 4.0, acrescentando que «tem o potencial de ser o maior investimento estrangeiro captado pelo País desde a Autoeuropa».
Numa declaração à Lusa, o Secretário de Estado disse que o projeto «altera uma parte importante das características do investimento» que tem sido captado para Sines, por ser «um projeto de transição digital pelas oportunidades que os datacenters e a economia dos dados nos vão dar neste século XXI e, ao mesmo tempo, é de transição energética, porque cada vez mais quem investe procura localizações que possam ser abastecidas a partir de energias renováveis».
O investimento a fazer pela empresa multinacional Start Campus poderá ascender a 3500 milhões de euros, que criarão até 1200 empregos diretos altamente qualificados e 8000 indiretos até 2025.
Classificado desde março como Projeto de Interesse Nacional (PIN), o centro de dados dá resposta à crescente procura de grandes empresas internacionais de tecnologia fornecedoras de serviços de transmissão em direto, redes sociais, comércio eletrónico, jogos, educação online, videoconferência e outros de processamento e armazenagem de dados e de aplicações empresariais.
Implicará a construção de cinco edifícios para alojar o mega centro de dados, que deverá ter uma pegada de carbono líquida zero, fazendo a refrigeração com água do mar aproveitando as instalações de refrigeração já existentes, e utilizando o calor para fornecer energia a empresas próximas. A construção deverá iniciar-se em 2022.
O projeto Sines 4.0 está a ser desenvolvido pela Start Campus em parceria com a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), a Câmara Municipal de Sines e o Governo português, através dos Ministérios da Economia e Transição Digital, dos Negócios Estrangeiros, do Ambiente e da Transição Energética, e das Infraestruturas e da Habitação.
Na sessão, estiveram presentes, além do Primeiro-Ministro, os Ministros de Estado, da Economia e da Transição Digital, Pedro Siza Vieira, e das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos, e o Secretário de Estado Adjunto e das Comunicações, Hugo Santos Mendes.